Andar pela cidade em uma simples quarta-feira. Se debruçar na janela encardida do ônibus e ver, atravessando a rua, uns cinco ou seis adolescentes, com suas mochilas carregadas de cadernos nas costas, o uniforme da escola e mais uns cadernos nas mãos. Alguns mostravam uma expressão de cansaço, de desespero ou de questionamento quanto ao fato de ter que frequentar, religiosamente, a escola. E você pensava, puxa, se eu pudesse mostrar pra eles o quanto sentirão falta dessa época... Outros mostravam uma alegria, que mesmo num meio sorriso, podia ser identificada de longe. E isso a deixava com uma sensação de melancolia.
Ao descer do ônibus, cada vez mais adolescentes uniformizados. Tentava desviar o olhar, a fim de que as lágrimas não invadissem seus olhos e que aquele nó na garganta já tão conhecido não fosse dado. Foi até a banquinha de jornal na esquina. Olhou rapidamente as capas das revistas, mas seus olhos fixaram-se, contra sua vontade, na capa de uma revista adolescente. 'Volta às aulas - roupas, materiais e dicas para ir para o colégio'.
Colégio.
Não fazia mais parte dessa realidade. Não fazia mais parte daquele grupo que frequentava a escola. Que passara de iniciante a veterano. Que vivia mais no colégio que na própria casa e desenvolvera uma afinidade e intimidade muito maiores com amigos que com familiares. Que tinha aula de educação física, ou que fazia das aulas de matemática uma sessão de músicas novas e conversas infindáveis. Que tinha os melhores amigos, os amigos, os colegas, e aqueles que não queria nem ver as fuças. Não viveria mais, de segunda a sexta numa sala separada em nerds, bagunceiros e falantes. Não teria mais que entrar na sala obrigada, porque a inspetora ameaçara a te mandar para a coordenação.
Não.
Essa vida já não era mais a sua. Essa realidade não condizia mais com a sua respectiva. Não. Somente as memórias. Memórias que a deixavam nostálgica, com um gosto adocicado na boca, mas que no finzinho transformava-se em um amargor, um aperto na garganta e no coração. Uma abstinência. Abstinência de poder ver, diariamente, todos os rostos tão conhecidos e amados que, há menos de um bimestre, era o habitual. Abstinência de quase ver o sol nascer, sentada no banco gélido, de braços dados com quem quer que estivesse a seu lado. Abstinência de recostar-se, quando o sono batia, em algum de seus amigos, de ver cada alma, cada carro ou pirua que chegasse a escola. De acenar um 'oi' ou dar um abraço mais do que apertado.
E, principalmente, sentiria falta de sorrir. Sorrir como nunca sorria em nenhum lugar, com ninguém mais, como fazia naquela época.
there's a place
- domingo, 7 de fevereiro de 2010
pony cor de rosa