Lucy in the sky with diamonds

Desde pequena era assim, por mais ansiosa e sonhadora que fosse, nunca fazia nada que não na data certa.
Se era o Natal chegando, contava em seu calendário de chocolate quantos dias ainda faltavam. Cada dia passado era um chocolate, e nunca, nem na mais remota hipótese, comeria um bombom que não correspondesse à data exata.

Esperava, afoitamente, o dia 25 de dezembro. Não abriria o presente antes, mesmo que ela própria tivesse ido escolher com a mãe e já soubesse o que a aguardava dentro daquele pacote de celofane e papel de seda, amarrado com um laço feito com tanto esmero. Abrir antes faria com que toda a essência, toda a magia se perdesse. Não seria mais Natal.

Era assim com todas as datas comemorativas que remetessem a presentes ou lembranças.
Como a Páscoa.
Toda manhã de Páscoa era o domingo mais esperado do ano. Era sempre aquele ritual nostálgico que ainda faz com que se esboce um sorriso em seu rosto, apenas com as lembranças. Mamãe e papai acordariam ela e a irmã com um beijo e um 'bom dia'. Elas abririam um sorrisinho sonolento e, vagarosamente, levantariam, a procura das patinhas de coelho e das pistas, que as levariam a todos os ovos de Páscoa. Avistar as primeiras patinhas brancas no chão era, na certa, sorrisos e olhos brilhando. Mas o final da brincadeira, a última pista e, com ela, a descoberta do local dos ovos, era o que a deixava mais estupefata. O café da manhã que acompanhava também era de se encher os olhos, sempre com as comidinhas mais gostosas, sempre cheio de coelhinhos na mesa. Aliás, por toda a parte!

Herdara de mamãe a ternura para com as datas festivas. O primor com que arrumava a casa, ora com coelhos, ora com papais-noéis, renas e bonequinhos de pão de ló.
Era isso que a enlevava, era isso que não deixava, nem deixaria, nunca, que o encanto nas coisas simples, e infantis até, segundo alguns, morresse. Era isso que fez com que se tornasse quem é hoje. E quem continuará sendo. Para sempre.